19 de fev. de 2012

Breakthrough 2012 – Moscou, como foi!

Bah, desculpa a demora em postar algo sobre o evento, é que na volta, quando sentou a poeira, caí de cama por três dias, foi muita diferença de temperatura, imagina, no Brasil, 35˚C, na Rússia, 20˚C abaixo de zero.
São 55˚C de diferença.  


E quem diria que em meados dos meus 40 anos eu estaria realizando um sonho que cairia bem nos meus 20. Há quem diga que o cavalo só passa encilhado uma vez, mas nessa história ele voltou, e aquele que não montei nos anos 80 quando iniciava uma carreira como skatista amador, veio agora na forma de um MBS PRO 100. Me refiro a essa oportunidade que surgiu de representar o Brasil na 5ª edição do Breakthrough 2012 em Moscou. Evento que reuniu diversas modalidades de esportes, Moto, Parcour, BMX, Roller In Line, Street Dance e Mountain Board. E bem na data das minhas férias.
A pista bem diferente dos moldes do Brasil e também bem diferente para quase todos os atletas presentes teve seu formato justificado pelos organizadores como “para dar mais show”, ou seja, uma descida alta para proporcionar mais velocidade, uma rampa pouco inclinada para arremessar alto e longe, uma mesa de uns 6,5m para forçar a extensão e a amplitude nas manobras e por fim, um quarter pipe com mais de 1m de vertical para uma finalização forte.


Na lista de convidados, a nata do Mountain Board Europeu, Nicky Geerse (NED), Matt Brind, Tom e Mick Kirkman (UK), Timothee Lambrecq, Victorien Szyjan, Alexandre Bietrix e Pierre-Louis Vine (FRA), Anton Shalamentsev, Dmitri Selivanov, Pasha Peshin, Oleg Melnikov, Eugene Vyborny e o anfitrião Alexey Potapov (RUS). Mais Eu do Brasil e Evan Carlson da América.

Isso tudo no Luzhniki Small Sports Arena Olímpica onde foi realizada as olimpíadas de Moscou em 1980.










 E tal não foi minha surpresa que na sexta feira quando fui conhecer a pista estavam ensaiando a abertura do evento e entravam coreógrafos levando as bandeiras dos países presentes, e lá estava a do Brasil, em primeiro na fila pela ordem alfabética, bandeira que no sábado eu estaria representando através de um esporte quase anônimo no Brasil, mas de muita força em países europeus.
Todo esse cenário me remeteu à emoções divergentes, ansiedade, alegria, medo, felicidade, coragem, motivação, incerteza, enfim, foi preciso estar em dia com os sentimentos para segurar essa pressão, e não tinha como deixar por menos.
Nos dois ensaios agendados para a sexta feira, foi o reconhecimento da pista, parecia que quanto mais distante do país de origem, mais dificuldade se tinha de ousar e aquele imenso ginásio com suas cadeiras vazias, anunciava o pior. Na mente ainda vinha aquela lesão do Romeno que esteve no Brasil e triturou seu pulso na Ogrolândia. “Oh Guedes, pára com isso, faz o que tu sabe”, eu pensava, mas tudo que eu sabia nunca tinha sido feito antes numa rampa naqueles moldes, e eu tentava projetar a manobra para aquele tipo de rampa e não assimilava.
Foram treinos curtos, de 06 saltos cada um, mal dava para ficar à vontade. E já no primeiro treino Tom mandou seus altos flips e flips no quarter, com uma naturalidade só dele, os atletas da França também, aliás, eles têm flips bem grebados e contorcidos, altos e extensos, eu nunca tinha visto tanto atleta top andando junto. Parece que aquele frio tinha congelado minha mente e meu entusiasmo.
No sábado, antes das duas apresentações, agendadas para a partir das 16h, haveriam mais dois ensaios. Não compareci no primeiro, às 9h, não havia entendido o horário, ou não queria entender. Tom me encontrou no saguão do hotel e disse que haveria mais um ensaio em 30 minutos, às 13h, juntei minhas coisas e fui. Deu para dar apenas 03 saltos, mas o pessoal me confortou e disseram que no primeiro ensaio haviam dado apenas um salto cada. Pronto! Não havia mais o que treinar. Agora seria para valer.

 



Todos reunidos no camarim, alta descontração e confraternização. Eram vários camarins, um para cada modalidade e esporte.
O público chegando, eles começaram a chegar aos poucos, mas você não imagina como tanta gente sai para rua com -20˚C lá fora, mas eles vem, e ainda saem para fora pra fumar.

 


E assim a gente vai percebendo que é tudo um estado de espírito e vai deixando aquele calor humano reaquecer nossa motivação.


 



Chega a hora do show, atletas em fila, serão apenas duas demos de 03 saltos cada, agora seria pra valer, se nos treinos a gente estava andando entre atletas, agora seria para quem pagou pra ver, eu não imaginava quantos, mas tinha muita gente, o estádio lotado.
Quando entramos na arena, o ginásio estava vibrante, subimos em fila rumo ao gate, eram duas pistas, uma de cada lado, nos dividimos em dois grupos previamente montados e fomos.










Para o primeiro salto, a gente precisava esperar ser anunciado, vários atletas, vários títulos, e para mim, li no roteiro alguma coisa a ver com minha idade, talvez “o mais oldschool do time, brasileiro e tal”. Tava em russo, só entendi o número.
Minha ordem de chamada era, depois do Mick Kirkman e antes do Evan Carlson, “nossa que obriga!”, pensei.

Já lá em cima, o Mick se pergunta meio que pensando alto – “vamos começar com o quê? Spins (giros), Flips (mortais) ou vamos dar uma reta para iniciar?”. Parecia Eu e o Lâmpada nas apresentações da ACM.

E lá vai o Mick, um giro 360º front side perfeito.

Me preparo e agora não tem mais mole, puxo o ferro de sustentação para dar velô e mando um back flip tail grab, acabo o giro e ainda sobra tempo de ver a aterrissagem e ajeitar para o quarter, tudo certo até aqui, cada metro parece não ter fim, vivo cada volta da minhas rodas intensamente, chego no quarter e dou um tail pick no coping, irado, ergo as mãos para o público e ainda ouço um “brasiliano”, feito, quebrado o gelo!

Agora é a vez do back flip peter pan, mas piro no gate e mudo de idéia, vou pro tudo ou nada e tento um back flip 180º, girou macio, extenso, na aterrissagem ainda sobrou um tempo para corrigir o giro, no quarter, dou um disaster e vibro junto com aquele estádio lotado, ufa, tô em casa!

No terceiro salto, o back flip peter pan para deixar minha marca e um 360º front side no quarter.

A galera toda mandando ver também, no meio de toda a minha concentração e empolgação, consegui ver altos giros 540º front side do Evan Carlson, giros 900º do Nicky Geerse, back flip 180º do Mick no quarter, front flips Russos e tudo mais.
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Pronto, finalizado o primeiro ato. É uma confusão mental só, não sei se quero que acabe logo e tudo dê certo ou se demore para acabar e eu possa fazer mais, já que vi que agora é possível.

Na volta para o camarim uma vibração só, um filme passa na minha mente. Tudo deu mais certo do que o esperado, nada mais justo quando se treina, mas há sempre aquela incerteza, “será que treinei o suficiente? Deveria ter andado mais aquele dia?”.

Encontro a Nany nos corredores, ela vem das arquibancadas, conseguiu filmar tudo, nos olhos vibrantes dela percebi que conseguiu ver também e viu o que imaginei, que tudo foi muito bem!
Chegando no camarim, encontramos dois atletas russos e suas namoradas, elas também estavam na platéia, e com um inglês de poucas palavras diziam, - “você ganhou!”
Eu surpreso disse, - “mas não era competição, não vim competir”.
E repetiam me dando parabéns, - “você ganhou”.
Na insistência, consegui entender que havia uma medição do número de aplausos do público e que eu havia sido o mais aplaudido.
Até aquele dia Eu nunca havia imaginado o que era uma multidão te aplaudindo. Não que seja isso que eu buscasse, mas é um reconhecimento espontâneo sem igual!
E também, longe de eu ter andado mais que qualquer um naquela arena, mas andei mais do que eu, andei mais do que esperavam, transmiti minha superação, convenci!

E ainda tinha a segunda apresentação, agora podiam vir mais três, queria mais era andar.
Iniciei com um giro 360º back side e um plant no quarter, mesmo que não tivesse acertado nenhum desses nos treinos, mas que com essa energia presente, tiraria de letra, e tirei, encaixadinho na recepção.

Chegou a hora de mais uma ousadia, o plant 360º ou 180º, ainda não sei ao certo, mas que nos treinos arrisquei e o Tom disse que ainda não tinha visto igual, eu disse para ele, -“Mas me inspirei vendo aquele no teu video na tua pista.” E ele disse, -“Não com as duas mãos no coping e girando por cima”. - “É que sou pesado.” Brinquei.
Lembrei disso e fui, Mick Kirkman tinha acabado de dar um back flip lindo seguido por um back flip 180º no quarter.
Dei um back flip christi air para imprimir mais velocidade, agora era projetar para o quarter, “será que tenho velocidade suficiente para girar? Só dando para ver!” Batem as rodas no coping, gira o board por cima, boto as duas mãos, chega a hora crucial, a aterrissagem, ou volto ou caio de costas, e esse tombo é doído. Que nada! Aterrissagem completada, só fui parar nos pés dos andaimes da cenografia, uma vez que o quarter era muito estreito, mas valeu, mais uma conquista! Nada mais gratificante do que a superação dos próprios medos!

Agora já era hora de sossegar, finalizei com um back flip tail grab bem alto!

De volta ao camarim, Evan Carlson se aproxima e diz, - “Eu vi o plant, você voltou, perfeito, a rampa que era estreita.”
É, vamos acreditar que sim!

 
Chegou a hora de relaxar, depois do jantar vamos para um Pub, Nicky Geerse foi o Dj da noite, com toda sua modéstia, detonou na pista e nas Pick Ups, celebramos tudo, inclusive o aniversário do Tom Kirkman, muita neve lá fora, alto calor humano lá dentro, pareciam ser todos das mesma cidade, do mesmo bairro, mas melhor que isso, eram todos compartilhando da mesma emoção.
Quase que só o esporte proporciona: une gerações, fronteiras e quebra barreiras!

A Nany? Ficou amiga da namorada do Tunetz e passaram a noite conversando via Google Translator, de Russo para Português, Português para Russo, o que se traduziu ali, não imagino, mas mulher de atleta também deve ter o que falar, mesmo que em culturas totalmente distintas!


 


É amigos, pensei muito em como retratar todo essa experiência, achei que a melhor forma seria tentando reportar cada um para lá, talvez tenha sido um pouco extenso, mas acreditem, resumi!

Tenho certeza que se cada atleta lá presente escrevesse uma matéria. Cada um com sua experiência. Não poderia fazer menor.

E também tenho certeza que se você estivesse estado lá, faria o mesmo ou melhor! Então, sinta-se intimado, junte uma grana, estude um inglês, use o FB para conhecer as pessoas, e vai Não pense duas vezes. Demorô! Foram apenas 6 pulos valendo, 26 mil km percorridos, mas com certeza um grande salto para o nosso Mountain Board! (essa frase plagiei do Neil Amstrong, dadas as proporções, é claro!

Um agradecimento todos especial ao Tunetz e a Maria, a Natasha, e ao Tom. Foram pessoas essenciais nessa nossa passagem pela Russia.


 


Se você quiser saber mais sobre o evento, pesquise no Google com a frase abaixo:

Фестиваль экстремального спорта "ПРОРЫВ" Москва 11.02.2012 
(Festival de esportes radicais “breakthrough” de Moscou 11.02.2012)


Enjoy The Ride!



8 de fev. de 2012

Márcio DaGuedes selecionado para o 5° Festival de Esportes Radicais "Breakthrough" em Moscou.


No momento em que escrevo essa coluna, concentro minhas energias para participar, dia 11 de Fevereiro, do festival anual de esportes radicais "Breakthrough" no complexo Luzhniki Small Sports Arena Olímpica, na Rússia. Por iniciativa do Tony Dog, fizemos contato com Alexey Potapov «2Netz», organizador do evento, e através de um vídeo editado pelo Fabiano Tissot da Padrão TV e Leo Alves da Mystic Representações, fui selecionado e estarei representando o Brasil pela primeira vez em um evento desse porte, foram 20 atletas internacionais convidados de países como: Rússia, Holanda, Reino Unido, França e Estados Unidos, e agora, Brasil! 
Vídeo do Fabiano Tissot e do Leo Alves que me possibilitaram ser selecionado pro evento!
Link do Site do Evento!



Enjoy The Ride!